Atualizado em: 07/06/23
Se você está chegando ao final da graduação, é natural que comece a pensar no seu futuro profissional e nas opções disponíveis para você. Seguir para pós-graduação é um passo importante na consolidação de um currículo mais robusto e muitos pensam que isso, pelo menos no lado stricto sensu, significa entrar no mestrado. Entretanto, como muitas coisas na academia, existem formas de pular o mestrado, indo da graduação direto para o doutorado.
Esse fato é pouco divulgado e envolve um tanto de misticismo, muito por que as faculdades e os sites dos institutos que oferecem pós-graduação não são autoexplicativos e pra entender os processos acadêmicos você precisa conhecer quem está lá dentro.
Meu nome é Bruno Paranhos e, como muitos pesquisadores no Brasil, pulei o mestrado. Minha história é simples: fiz diversos estágios de iniciação científica durante a graduação e, ao me formar, minha orientadora de um destes estágios me sugeriu pular o mestrado. Fiz a prova do Mestrado, passei e ela me indicou para tentar a seleção do Doutorado. Para mim foi uma escolha óbvia, mas depois de conhecer a história de diversos outros que passaram pela mesma experiência posso te afirmar que a escolha não deveria ser tão óbvia assim. Antes de tomar essa decisão, é importante pesar os prós e contras (sim, eles existem) e entender como isso pode afetar a sua carreira.
O que é um Doutorado? e um Doutorado Direto?
Doutorado é o mais alto grau acadêmico que se pode obter em um determinado campo de estudo¹. Geralmente, é conquistado após um programa de estudos (pós-graduação) de quatro a seis anos em uma universidade ou instituição de pesquisa, que envolve a realização de pesquisa original e a defesa de uma tese de doutorado. Durante o programa, o estudante trabalha em estreita colaboração com um orientador, realizando pesquisas de ponta em sua área de estudo e publicando seus resultados em revistas acadêmicas reconhecidas.
O título de doutorado é reconhecido em todo o mundo como Ph.D (Doctor of philosophy) e geralmente é um pré-requisito para carreiras em pesquisa e ensino universitário, além de ser muito bem visto para posições de liderança em diversas áreas.
Um pensamento comum é que para se obter o título de Doutor é preciso antes fazer o mestrado, obtendo um título de Mestre, mas no Brasil, assim como diversos outros países, o título de mestre não é um pré-requisito obrigatório para tal. Daí o nome Doutorado Direto.
¹Na realidade, o maior grau no Brasil é o título de Livre-Docência, mas esse título se refere a uma etapa muito posterior da academia, não tão acessível ou divulgada.
Como é o processo?
Em primeiro lugar, é importante ressaltar que a possibilidade de pular o mestrado e ir direto para o doutorado varia de acordo com a instituição de ensino superior e, especialmente, o programa de pós-graduação (PPG). Segundo o CNPq, uma das principais agências de fomento à pesquisa no país, apenas PPGs com nota CAPES² maior que 5 podem ofertar essa opção aos seus alunos.
A partir daí, se um determinado PPG irá ofertar fica a critério da direção do programa, o que pode envolver diversos critérios técnicos como a capacidade dos docentes de dar suporte a essa modalidade ou a adequação com o perfil dos alunos que costumam ingressar o programa. Na prática, é necessário se informar sobre os programas de pós-graduação do seu interesse através do site, editais de inscrição passados ou com a secretaria do programa.
Para o ingresso, é necessário ler os editais de ingresso do PPG, que podem ser periódicos ou em fluxo contínuo³. Como em qualquer Mestrado ou Doutorado, também será necessário escolher um orientador e um projeto, processo que varia de programa a programa. Usualmente os editais envolvem a entrega de documentações acadêmicas e currículo, a apresentação de um pré-projeto de pesquisa (por escrito, apresentado ou ambos) e uma prova.
²A nota CAPES é uma nota dada a programas de pós-graduação e vai de 1 a 7.
³Edital que aceita inscrições ao longo de todo o ano
Quais as vantagens do Doutorado Direto?
A primeira coisa que nos vem a mente é: pular o Mestrado economiza 2 anos na trajetória acadêmica. Como o título de Doutor é superior ao de Mestre, a academia e mercado não se importam com o título a menos e veem com bons olhos esse pulo, sem sentir que há um buraco curricular.
Outro ponto interessante é que as bolsas de Doutorado são geralmente maiores que as de mestrado, o que te leva a receber uma remuneração maior mais rapidamente em sua carreira. Um estudante de Doutorado Direto pode tanto receber bolsas padrão de Doutorado, como bolsas específicas de Doutorado Direto. No estado de São Paulo, essa última modalidade tem valor diferenciado que é igual ao do Mestrado nos primeiros dois anos4.
4 Para mais informações, procure sobre a bolsa de Doutorado Direto da FAPESP.
Pontos a se considerar antes de ingressar em um Doutorado Direto
Por que fazer um Mestrado, então? Bem, o Mestrado tem uma razão lógica e histórica de existir, e pular essa etapa pode não ser necessariamente uma jogada inteligente. O Mestrado é importante para a formação acadêmica, pois permite que o estudante se aprofunde em uma área específica do conhecimento e desenvolva habilidades e competências que serão fundamentais para o sucesso no Doutorado e na carreira acadêmica.
Além disso, fazer um Mestrado pode ser uma oportunidade para o estudante experimentar a vida acadêmica, entender como funciona um grupo de pesquisa, adquirir uma boa relação com seu orientador, conhecer melhor a linha de pesquisa que pretende seguir e decidir se realmente quer fazer um Doutorado naquela área. Em outras palavras, o Mestrado pode ajudar o estudante a tomar uma decisão mais informada sobre o seu futuro.
Outro ponto importante a considerar é o comprometimento que o Doutorado exige. Enquanto o Mestrado dura em média dois anos, o Doutorado pode levar quatro anos para ser concluído. Isso significa que, ao pular o Mestrado, o estudante está se comprometendo com um período mais longo de estudos e pesquisa num determinado assunto.
Considere também, que no Mestrado há a possibilidade também de migrar sua área de estudo. Por exemplo, um graduado em História pode fazer um mestrado em Economia, assim como um graduado em Biologia fazer um Mestrado em Filosofia. Com o mestrado na segunda área do conhecimento, você naturalmente tem especialização o suficiente para seguir para um Doutorado nessa área. Na opção do Doutorado Direto, essa migração é mais limitada, pois o estudante precisa ter tido, durante a graduação, experiência em pesquisa nessa segunda área.
Por fim, algo não tão comentado é a questão do título: você só obtêm o título de Doutor, ao terminar o Doutorado. Até lá, seu mais alto grau é o de graduação. Oportunidades aparecem e é comum ouvir histórias de pesquisadores que receberam ofertas de emprego durante o Doutorado e agarraram esta oportunidade. Quando você faz Doutorado Direto, você não terá o título de Mestre, que pode ser tanto um requisito para a vaga a qual lhe foi oferecida, como um motivo para aumento salarial.
Em resumo, pular o mestrado e ir direto para o doutorado é uma possibilidade real na carreira acadêmica brasileira, que varia de acordo com a instituição de ensino e o programa de pós-graduação, mas que, apesar de vantajoso, pode não ser ideal em todas as trajetórias acadêmicas. O mestrado é importante no aprendizado e formação acadêmica, além de ajudar o estudante a tomar uma decisão mais informada sobre o seu futuro profissional. Por outro lado, pular o mestrado pode ter vantagens financeiras e permitir que o estudante entre mais rápido no mercado de trabalho. Por isso, cabe ao estudante (e idealmente seu orientador) avaliar suas prioridades e objetivos antes de tomar tal decisão.
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Comentários:
Mario David Aragão Gomes, 17/04/24
Gostaria de saber se você sabe de algum programa onde o doutorado direto é possível para egresso de medicina. Obrigado.
Jefferson Pedroso, 04/07/23
Conteúdo incrível, agradeço muito pelas informações!